Dia 16, fui assistir à divina Andrea Beltrão no potente monólogo Lady Tempestade, em que ela conta a história de Mércia, uma advogada combativa dos anos de chumbo.
A peça tem apenas um cenário, um sofá de dois lugares. A trilha sonora, executada pelo filho de Andrea, que também faz algumas participações especiais, é muito bem pensada e adequada a tudo o que se passa no palco. Iluminação perfeita.
Com uma pegada um pouco mais brechtiana, no meu sentir, a peça conta a trajetória de uma advogada pernambucana, ativista dos direitos humanos. Por estarmos passando um período mundial profundamente perigoso, no sentido da volta das ideologias supremacistas e fascistas, é um espetáculo que necessita ser visto.
O Brasil não está livre de retornar a um regime autoritário e assassino, como foi o de 1964 a 1988 – eu só considero o fim do regime militar com a inauguração da nova ordem constitucional, em 5/10/1988. Estivemos por um fio muito fino e frágil de retornarmos ao arbítrio militar.
O mais estapafúrdio da situação é que em nenhum dos casos havia alguma ameaça realmente comunista nos rondando. Nem mesmo socialista. Tanto Jango quanto Lula estão muito mais próximos da Social Democracia que do Comunismo propriamente dito.
Voltando à cena de Andrea, ela traz à vida M Ponto e R Ponto. R encaminha os diários de Mércia a M e a partir disso somos apresentados a essa Lady Tempestade em toda a sua grandeza, generosidade e sofrimento. Sem arroubos de emoções exageradas, contida como deve ser a narrativa de uma história tão sofrida, evitando o melodrama, M nos envolve.
Ao final, uma emocionante homenagem aos que pereceram na luta contra o arbítrio militar.