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Graciliano Ramos: o escritor alagoano muito à frente do seu tempo

Graciliano Ramos é um daqueles escritores brasileiros de logo após o movimento modernista, de 1922, mas que nos assombra pelo quanto está adiante do tempo em que viveu.

Seus livros mais famosos são Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere, mas ele é muito mais de que um escritor, cronista e romancista da primeira metade do séc. XX. Foi prefeito da pequena Palmeira dos Índios, município do estado de Alagoas. Ali, combateu o racismo, a ignorância e a opressão, pois conseguiu colocar mais de 50 mil crianças nas escolas públicas. Além disso, nomeou como diretora da escola municipal d. Irene, uma professora negra. Vocês podem imaginar o rebuliço. Ainda hoje, no séc. XXI, uma mulher negra numa posição de comando causa arrepios na branquitude, considerem o tempo em que isso ocorreu, antes de 1937, quando o racismo era uma imposição científica. 

Em São Bernardo, Ramos, cognominado pela imprensa carioca como o Mark Twain do nordeste (sabujice ridícula, porque Ramos é muito melhor que o estadunidense), coloca o dedo numa ferida antiga do coronelismo nacional: a insistência em manter os empregados na ignorância, porque se se instruíssem, certamente não se submeteriam mais à opressão e seriam capazes de melhorar a vida miserável que levavam. Ligando essa instrução, o comunista Graciliano Ramos defende em Vidas Secas que melhores condições evitariam a onda de migração para os Estados do Sudeste brasileiro.

Graciliano Ramos teve livros transformados em filmes

Vidas Secas é um manifesto contra as miseráveis condições a que o sertanejo nordestino era submetido. E tudo por vontade política, pois uma boa reforma agrária e uma revolução pelo conhecimento poderia ter levado a região a um desenvolvimento inigualável. Contudo, os herdeiros das capitanias hereditárias jamais aceitariam esse movimento. A adaptação deste romance para as telas cinematográficas rendeu uma das mais belas páginas do cinema novo. Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, com um elenco misto de atores sudestinos e locais, foi classificado como um dos oito melhores filmes latino-americanos de todos os tempos por Carlos Galliano e Rufo Caballero. A cena da morte da Baleia ainda é uma das mais melodramáticas da cinematografia nacional.

Preso pela ditadura Vargas, escreveu o segundo romance adaptado às telas. Também dirigido por Nelson Pereira dos Santos, o filme traz uma grande contradição. Lançado nos estertores da ditadura inaugurada com o golpe militar de 1964, traz no papel de Ramos um ator que depois se mostraria um representante visceral da extrema direita, Carlos Vereza. À época tido por grande ator, Vereza depois veio a se revelar intérprete de um único personagem sussurrante, canastrão e repetitivo. Apesar disso, o filme, com duração de 3 horas, prende a atenção do início ao fim. 

Para narrar toda a história desse grande romancista, a editora Edições Sesc está lançando “Graciliano: romancista, homem público, antirracista“, de Edilson Dias de Moura, ao preço de R$ 85,00. Compre na Amazon

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